domingo, 29 de janeiro de 2012

Memória como fonte histórica

Diversos pesquisadores e estudiosos consideram a história oral como fonte identitária de um povo, capaz de retratar as realidades, as vivências e os modos de vida de uma comunidade em cada tempo e nas suas mais variadas sociabilidades. Esse tipo de fonte não só permite a inserção do indivíduo, mas o resgata como sujeito no processo histórico produtor de histórias e feitos de seu tempo.
Para o professor Antonio Roberto (2009), no caso específico do Brasil, a valorização da memória como fonte é de suma importância, pois as características da sociedade brasileira foram sempre pautadas por um autoritarismo profundo e dicotômico, dividindo sempre o povo brasileiro em rico e miserável, letrado e analfabeto, latifundiário e escravo, mandante e mandado. Por conta dessa inegável realidade, a história brasileira, muitas vezes, contou a história vista de cima, oficializada, valorizando grandes feitos praticados pelos heróis nacionais reconhecidos pela classe dominante. A exemplo disto, o célebre livro Casa Grande e Senzala, do escritor Gilberto Freyre, que embora não ousemos negar sua relevância, sabe-se que foi escrito de dentro da Casa Grande.
Ainda hoje é relutante a história contada acerca dos nativos brasileiros, que mantém a ótica do colonizador, um benfeitor, desbravador que trouxe o progresso, além dos jesuítas que os acompanharam, que de bandeja, trouxeram um “deus”, terrível.
Esse preconceito advindo da quase perpetuação da falta de esclarecimento, recentemente provocou um tremendo mal-estar entre ativistas, indigenistas e os próprios povos indígenas brasileiros, em decorrência de um slogan criado pela empresa Aracruz, no Paraná, que em um outdoor expunha seu preconceito, discriminação e desrespeito: “A Aracruz trouxe os progresso, a FUNAI, os índios.”
O problema da verdade histórica é abordado a partir da memória como fonte alternativa de reconstrução do passado, proporcionando, no presente, vez e voz aos discriminados, oprimidos, menosprezados e ofuscados pelo discurso do poder. Com efeito, esse tipo de discurso fora utilizado durante muito tempo pela historiografia tradicional, que priorizava a História oficial ou vista de cima, com base em documentos escritos de cunho político governamental selecionados tendenciosamente como única fonte credora de confiabilidade.
Um exemplo de como pode ser significativo um trabalho acerca da memória de um povo, nos reporta ao povo Xukuru do Ororubá (PE). É a partir de suas memórias que os Xukuru do Ororubá lêem a história para justificar a reivindicação de seus direitos à terra, originalmente herdadas de seus ancestrais que habitavam a Serra do Ororubá, no município de Pesqueira (PE). De acordo com o relato dos mais velhos, ainda no século XIX, quando da participação dos índios, como voluntários da pátria, na Guerra do Paraguai, o território foi-lhes garantido pelo Governo Imperial.
De acordo com o pesquisador Edson Hely (2008), “as memórias orais, como as do povo Xukuru nos ajudam a entender como pessoas e grupos experimentaram o passado e torna possível questionar interpretações generalizantes de determinados acontecimentos e conjunturas.”
Para não perder a legitimidade e fidelidade dos relatos orais, o pesquisador deve preferencialmente realizar entrevistas com questões abertas, para favorecer o/a entrevistado/a com um relato mais livre e amplo, interrompendo algumas vezes quando necessário para um melhor esclarecimento dos assuntos narrados.
É importante também que os textos sejam transcritos por uma outra pessoa, para o papel, afim de  que as impressões pessoais do pesquisador não comprometam a lisura do trabalho.


Fontes de Pesquisa:

Roberto, Antonio. Artigos – Memória.
Disponível em: http://www.webartigos.com
Acesso em: 19 de Out. 2010- 13h 40 min

Silva, Edson Hely. Xukuru: memórias e histórias dos índios da Serra do Ororubá (Pesqueira/PE), 1959-1988/Edson Hely Silva. - Campinas, SP:[s.n.],2008.

Nenhum comentário:

Postar um comentário