sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A cientificidade da História

Resenha do texto: "A cientificidade da História, o Iluminismo e a Era das revoluções"(UFRPE)

 Por Sunamita Oliveira

Há um certo consenso entre pesquisadores de que o papel da história é desenvolver a criticidade e mostrar possibilidades de melhoramentos no presente através do passado, não é regra trazermos à tona objetos nunca vistos até então, seja do presente, do passado ou especulações futuras, mas, devemos refletir sobre como, onde e porque se vê. São as “tensões” sociais que criam o discurso histórico e, sobretudo um intelectual da história não faz experimentos virtuais ou reais, não tem por espaço o laboratório, ele precisa interagir absolutamente com seu objeto que na prática não está completamente no passado nem no presente, ou seja, os modelos e estruturas do laboratório, as possibilidades de se chegar a verdade “científica” não nos modelam, mas, nos interessa enquanto ação humana e capaz de historicidade, de controversas, principalmente para aqueles que se ocupam da história das ciências.
Afirmar que história não é uma ciência, assim como a filosofia, é diminuir o seu grau de importância? Por quê? Já é hora dos profissionais da história definir melhor seus conceitos de cientificidade, bem como, se desnudar de preconceitos ou valores hierárquicos que incomoda aos historiadores quando são apontados de não científicos.
Veyne ao questionar se a história é uma ciência, ressalta que embora a esperança científica do século XX foi a de constituir uma física do homem, “tal como foi a física do século XVII”, a história não é e nunca será essa ciência: “[...] mais ainda a História da qual se fala muito desde há dois séculos, não existe”. (1971, p. 10).
Para Veyne, (citado por Cordova, 2006) o que poderia existir então seria a afirmação de que a história constitui-se numa narrativa verídica, em que “[...] os historiadores narram acontecimentos verdadeiros que tem o homem como ator”. Se desde os sucessores de Aristóteles esta é a resposta à questão sobre o que é a história e qual a sua cientificidade, deve-se levar em conta que uma ciência humana não pode ser caracterizada por um “debate vão de palavras”, pois palavras podem revelar ideias, ordenações do saber e o próprio sentido epistemológico da história enquanto ciência humana:
Não, não é um debate vão saber se a história é uma ciência, porque “ciência” não é um vocábulo nobre, mas um termo preciso e a experiência prova que a indiferença pelo debate das palavras se acompanha ordinariamente da confusão de ideias sobre a coisa em si. (VEYNE, 1971, p. 13).

Haydew Write relata que a História é uma arte literária de menor valor, portanto não é uma ciência. Porém, Lucien Febvre e Marc Bloch, afirmam que a História é uma ciência humana que trabalha as verdades possíveis de outro olhar, com métodos e objetivos próprios, usa métodos racionais que buscam a lógica para comprovar o que fala.
O conceito que se tornou muito utilizado na academia de que História é uma ciência que estuda o homem e as sociedades humanas no tempo, hoje já pode está precisando de um complemento ou uma ampliação, haja vista que existem tantos caminhos que são utilizados pelos historiadores para a pesquisa histórica, pois o homem está envolvido em vários contextos da ação e da experiência humana.
Para a historiadora Vavy Pacheco Borges, a história é um termo com o qual vivemos diariamente desde nossa infância, que não podemos concebê-la como um passado distante e morto, mas de uma forma que possamos acreditar que o conhecimento histórico possa ajudar a explicar a realidade e transformar as ações humanas que estão presentes em nossas vidas hoje. Segundo a visão dessa historiadora, para melhor compreensão da ciência histórica, precisamos partir da história da História, ou seja, as primeiras concepções que envolvem o misticismo, a religião, que coloca o homem em segundo plano e passivo das ações dos deuses que estão em primeiro plano, uma história não científica, pois ainda não estavam estabelecidos os métodos de análise, etc. História baseada em mitos era concebida como um passado tão distante, tão remoto e por ser delimitado um tempo cronológico e o espaço territorial onde ocorreu o processo histórico, não havia cientificidade, pois não sabiam quando se deu o fato. Eram fatos mitológicos e não históricos.
Ciro Flamarion Cardoso, diante de todas as discussões travadas por muitos teóricos nas diversas áreas da Filosofia e das ciências humanas, conclui que "a História é uma ciência em construção, pois não busca verdades absolutas e eternas, que a conquista de seu método cientifico ainda não é completa e que os historiadores ainda estão descobrindo os meios de análise adequados ao seu objeto".
Se a base de toda ciência são as provas, podemos provar nossas teses e teorias utilizando as concepções dos pesquisadores que vieram antes de nós. Na História cientifica, utilizamos as fontes históricas e o método de análise das fontes para só depois construir o texto historiográfico. Os historiadores não podem testar um fato humano do passado ou do presente, mas pode analisá-lo e interpretá-lo através do Método da História.
Os grandes intelectuais do século XIX e XX tais como: Albert Einstein que recebeu o Nobel de Física em 1921, por desenvolver a teoria da relatividade. Karl Marx fundador da doutrina Comunista, como pensador influenciou várias áreas como a Filosofia, História, Sociologia, Antropologia, Ciência Política, etc. Em uma pesquisa da rádio BBC de Londres em 2005, foi eleito o maior filósofo de todos os tempos. Max Weber, considerado um dos fundadores da Sociologia. Émile Durkheim, fundador da escola francesa de sociologia, conhecido com um dos melhores teóricos do conceito de coesão social. Nelson Mandela, Stive Biko, Jonh Kennedy, Mahatma Gandhi, Jonh Lennon, Adolf Hitler entre outros fizeram história e mudaram o mundo.
Baixar uma lista de nomes precisaria de vários quilômetros de papel. Todos esses homens atuaram nas mais variadas áreas e influenciaram gerações por décadas a até hoje continuam a influenciar. Foram homens que com suas ações no tempo, deixaram um legado para a geração presente e para as outras que ainda virão. Um legado que pode ser utilizado pelas diversas áreas seguindo algumas regras e normas para se tornar ciência.
Voltaire, um dos maiores filósofos do século XIX demonstrou grande preocupação com a reflexão histórica. O Professor Robson Costa nos revela um fato de que Voltaire, em busca de fontes para suas indagações, foi até um mosteiro beneditino para se utilizar de sua vasta biblioteca. Em seu texto ele questiona: o que faria um Iluminista, grande crítico da igreja, se beneficiando da organização e preservação documental de um velho mosteiro? No mesmo texto, encontramos a resposta dada por ele: “ir ao inimigo para se prover de seu arsenal”.
Costa (2010) frisa que refletir e compreender a evolução das civilizações estava no cerne da utilização das fontes históricas, e finaliza destacando que nas últimas décadas, uma nova geração de historiadores lançou as bases de uma “nova história” afastando-se definitivamente da crônica, da literatura, dos sentimentos. O modelo que passa a ser seguido deixa de ser aquele praticado pelos romancistas e passa a ser o das ciências naturais.

Referências Bibliográficas

BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. São Paulo; Brasiliense, 2005.

BLOCH, Marc. História e historiadores. Lisboa, Teorema, 1998

CARDOSO, Ciro Flamarion. Uma introdução a História. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1984.

CORDOVA, Maria Julieta Weber. A cientificidade da história. (UEPG) Artigo Regional, 2006.
Disponível em: http://www.artigonal.com/ciencia-artigos/a-cientificidade-da-historia-a-fronteira-entre-a-ciencia-e-a-historia-1935027.html
Acesso em: 16 de Nov. 2010 às 14:25

COSTA, Robson. Introdução aos estudos históricos. UFRPE/UAB-EAD. Livro 1.Recife, 2010.

GRESPAM, Jorge. Considerações sobre o método. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2005.

MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigação em psicologia social. 3ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 60.

VEYNE, Paul. Como se escreve a história. São Paulo: Martins Fontes, 1971.

VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo; PEIXOTO, Maria do Rosário da Cunha; KHOURY, Yara Maria Aun. A pesquisa em História. São Paulo: Ática, 2005.

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