INTRODUÇÃO
O Padre Cremildo Batista de Oliveira (nome de batismo), nasceu aos 18 de outubro de 1930, em São Joaquim do Monte, PE. A data de seu nascimento não condiz com seus documentos de identificação (anexos) existentes na Casa Paroquial, que constam de 18 de fevereiro de 1930. A data naõ foi aterada por ele e, sempre quando fazia referencia ao seu nascimento, dizia ele, que teria havido um erro no ato de seu registro e que o mesmo não se interessava em retificar. Foi levado a Pia Batismal, no dia 21 do mesmo mês, sendo seu batismo celebrado pelo Mons. Bernardinho de Carvalho. Filho legítimo de pais camponeses, Firmino Batista de Oliveira e Luzia Maria de Oliveira. Ingressou no Seminário no dia 14 de fevereiro de 1945.
Recebeu aos 26 de dezembro de 1953, permissão da autoridade diocesana para antepor ao seu nome de batismo o nome de “Paulo” conforme solicitação feita, na qual expressava seu desejo em ter o nome de um apóstolo de Jesus, sendo apoiado por seus familiares.
Durante seu sacerdócio, exerceu os seguintes cargos: Vigário cooperador e Capelão do Colégio N. Sra. Das Dores, em Bezerros. Vigário Cooperador de São Miguel, Sairé, e 1957 a 1960. Vigário substituto e Ecônomo do Bonito, de 1961 a 1964 (fevereiro). Pŕo-pároco, Vigário Ecônomo de Gravatá, de 01 de março de 1964 até a data de seu falecimento aos 68 anos de idade em 29 de dezembro de 1998.
Foi agraciado com o título de Cônego e, a 22 de janeiro de 1981, com o título Pontificio de Monsenhor Capelão de sua Santidade João Paulo II. Além dos cargos eclesiáticos, desempenhou o ofício de Prof. em Bezerros, Bonito e Gravatá. Em 1972, revalidou o curso Filosófico na Universidade Católica do Recife. No dia 15 de novembro de 1976 foi eleito Prefeito de Gravatá, tomando posse no Governo Municipal no dia 31 de janeiro de 1977, governando o município até 31 de janeiro de 1983.
1. INGRESSO NA POLÍTICA MUNICIPAL
Em um artigo resultante de um projeto de pesquisa, os professores Lenilson Batista, Maria José da Silva e Ângela Maria (2005), descrevem o momento político, na ocasião da chegada do Padre Cremildo no município de Gravatá, em 01 de março de 1964, com 34 anos de idade, afirmando que era uma época em que o Brasil começava a entrar num período tenebroso de sua história republicana. Acrescentam eles o infome de que
[…] numa época em que a democracia – regime pelo qual o povo exercita sua liberdade – sai de cena para ser introuzida à ditadura militar, apoiada por políticos partidários da UDN,PSD,PSP e, também pela elite econômica que usando o artifício de restabelecer a “ordem” demonstrva interesses de cada vez mais concentrar renda. Assim,ainda nos anos 60, pasa a vigorar no cenário nacional as perseguições aos políticos de esquerda (tachados de comunistas). Sucediam violentas prisões e torutras contra os vencidos; contra os pensadores da época, jornalistas, cantores, professores, estudantes, líderes sindicais, ou seja, todos aqueles que por algum motivo expressavam suas ideias contra o governo. (ALBUQUERQUE; BATISTA; SILVA,2005).
Padre Cremildo se tornou cidadão gravataense no dia 17 de outubro de 1969, após vários serviços prestados à Paróquia e à comunidade.
Em 1972, durante as eleições para prefeito e vereadores, o Cônego Cremildo começa a demonstrar indignação com a situação política do município, pois neste pleito havia apenas um candidato a prefeito de Gravatá, o candidato da ARENA (Aliança Renovadora Nacional), o senhor Aarão Lins de Andrade, um dos membros da oligarquia que dominava o município havia algumas décadas e, pleiteava o seu terceiro mandato. A partir deste quadro, o Padre Cremildo começa sinalizar contra aquela situção estagnada `a qual viviam seus munícipes. Aos poucos assimila os anseios da comunidade tornando-se um oposisionista explícito.
A partir de 1975, o Padre assume publicamente sua postura política partidária quando se filia ao MDB, tornando-se posteriormente presidente municipal desse partido.
De acordo com Batista (2005), “no ano de 1976, a comunidade gravataense acolhe com entusiasmo a candidatura do Padre Cremildo ao pleito municipal (...) um sarcerdote naquela ocasião era tudo que o povo ressentido e insatisfeito com a administração municipal ansiava”.
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Durante a campanha eleitoral, Padre Cremildo foi duramente criticado por seus adversários que, “sequer pouparam a figura do líder religioso e, em muitas vezes não distinguiram o sacerdote do político, o santo do profano, as coisas de Deus das coisas mundanas”.(BATISTA, 2005).
Por outro lado, segundo relata D. Tereza , era aclamado pelos populares que, muitas vezes o impediam de andar com suas próprias pernas e pés (literalmente), carregando-o nos ombros durante os comícios, até sua residência.
No dia 15 de novembro de 1976, o candidato do MDB Padre Paulo Cremildo Batita de Oliveira foi eleito pelo voto popular com 6 345 votos, tendo uma margem de 1 981 votos sobre o candidato da ARENA Dr. Paulo da Veiga Pessoa, que obteve 4 364 votos.
2. O MANDATO
Alguns fatos tornaram-se inéditos na administração política do Padre Cremildo em Gravatá. Vários relatos dão conta de que ele contratou um serviço de som, através do qual fazia prestação de contas diariamente à população sobre a receita e a saida, quem nomeou, quem demitiu, enfim, de tudo o que ocorria na prefeitura, conforme testemunho dado pelo Sr. Valdomiro Queiroz, seu vice-prefeito, em entrevista realizada no ano de 2005 pelos professores Lenilson Batista e Maria José da Silva, em Gravatá.
Com os poucos recursos existentes no município, realizou algumas obras importantes, dentro de suas limitações, como a construção de algumas escolas, especialmente na zona rural do município, facilitando o acesso dos alunos; construiu postos de saúde com atendimento odontológico; realizou a construção do calçamento de várias ruas na zona urbana, como a exemplo da Rua Dr. Amaury de Medeiros; providenciou a construção de pontes, mesmo que um tanto rudes, facilitando o acesso dos moradores da zona rural; favoreceu a eletrificação de algumas áreas na zona rural, como no distrito de Avencas; construiu e reformou praças mas, especialmente, é lembrado com reverência, até mesmo por históricos inimigos políticos, por ter realizado um governo irretocável, do ponto de vista da moralidade, da ética e do trato para com a coisa pública.
Sabe-se que o pacato padre terminou seu mandato com o mesmo saldo financeiro que tinha antes de iniciá-lo. A respeito desse assunto, discursou o Mons. Cremildo, durante quarenta minutos, na posse de seu sucessor, o Padre Joselito, à paróquia de Sant'Ana
(…) Para todos sempre dirigi a minha palavra, não minha, mas a palavra de Jesus Cristo. Talvez eu tenha sido enfadonho, demorado, mesmo quando eu exerci uma atividade extra-eclesiástica, mesmo assim eu fiz desta comunidade, desta oportunidade um momento de catequizar e de evangelizar. Não explorei a coisa pública. Não! Mas procurei criar uma consciẽncia nova em nosso povo... uma consciẽncia política nova. Não me arrependo do cargo que exerci, jamais! (…) “Esta é a missão dos sacerdotes, comandarem o povo de Deus pelas estradas da vida em demanda da casa do Pai”.(...)
Para esta geração, doze anos após seu falecimento, se apregoa a impressão positiva acerca de seu carater indelével, cujos preceitos interferiu de forma ímpar na postura e na vida de seu povo, fossem eles religiosos, militantes ou seguidores de suas ideias políticas. Sua personalidade aguçou a criticidade da população que ou o venerava como um mestre, ou discordando de seus discursos de “verdades” contraditórias, o respeitava, porém com um certo desprovimento de afeto. Entretanto, inevitável dizer que foi o Padre Cremildo – meramente pelo fato de conciliar “com êxito” duas funções extremamente opostas – um grande líder sacerdotal e político na conjuntura histórica da cidade de Gravatá.
“É inquestionável as conquistas obtidas pelo Monsenhor Cremildo no campo social e cristão junto à nossa comunidade. A história de nosso povo registra, com muito destaque, apresença marante desse sacerdote, que também foi prefeito”. (…) “governou com o povo e para o povo”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a realização deste trabalho, foi possível constatar e com tristeza, a falta de registros, nos órgãos públicos municipais, como a Casa da Cultura e o Memorial de Gravatá, do trabalho realizado pelo Padre Cremildo durante sua atuação como prefeito de Gravatá.
Esta pesquisa só foi possível graças a dedicação de uma senhora simpática e de hábitos de vida simples, que guarda há 37 anos, todos os pertences do padre. Desde fotos, escritas no verso de próprio punho por ele, documentos pessoais, correspondências, jornais e várias demonstrações de afeto dos municípes para com o padre, até objetos de mero valor sentimental mas, incomensurável para esta fiel guardiã da memória do Padre-prefeito, que para ela, era um amigo, um pai, tal qual sua irmã D. Helena, que era para ela uma mãe.
Essa experiência proporciona uma reflexão sobre o tratamento que é dado atualmente ao passado, como se nele não habitasse os ensinamentos devidos para evitar erros no presente e, ampliar as perspectivas de futuro.
Tal qual já foi dito por algum pensador, é plausível repetir que “ um povo sem memória é um povo sem futuro, sem história”.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A GAZETA DO AGRESTE, Gravatá, ano 05, nº 50, jan. 1999.
ALBUQUERQUE, Ângela Maria de; LIMA, Lenilson Batista; SILVA, Maria José. O Sacerdócio e o mandato: as ações do padre Cremildo em Gravatá. (Artigo escrito como resultado de um Projeto de Pesquisa, no curso de pós-graduação e especialização em História Geral. FAINTVISA. Vitória de Santo Antão, maio. 2005)
FONTE ORAL
ENTREVISTA:
D. Tereza Maria da Silva, Gravatá, dezembro/2010.